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Os avanços tecnológicos e o atraso da educação

O que temos hoje é uma escola do século XIX, com professores do século XX e alunos do século XXI. O professor não é mais o detentor de todo o conhecimento como nos séculos passados, ele é confrontado diariamente com o que é publicado na rede mundial de comunicação.

Os avanços tecnológicos estão demonstrando diversos pontos positivos quanto ao desenvolvimento sustentável da humanidade, a flexibilidade econômica, os produtos e serviços que estão sendo realizados por aplicativos e na segurança das famílias em ter contato imediato com seus entes. A tecnologia trouxe a indústria 4.0, que visa a automação integral das máquinas, através da inteligência artificial, produzindo mais rápido, com mais eficiência e gerando menor custo.

Industria 4.0. Reprodução: Weg.Net

Fez o homem ir à lua e mais recentemente, criou uma corrida para o turismo espacial entre empresas privadas. Hoje, graças a ela, existem geladeiras que avisam em um aplicativo de smartphone, quais itens e alimentos estão faltando dentro dela. Existem também carros autônomos, que não necessitam mais de um motorista. Trouxe a medicina hiper personalizada (ou medicina de precisão), que visa o tratamento médico às características individuais de cada paciente. Hoje, o tratamento é muito mais especificado e detalhado, sendo rastreado por inúmeros aparelhos tecnológicos. Já há, inclusive, remédios antienvelhecimento e o desenvolvimento de um chip eletrônico, que tem por objetivo percorrer toda a corrente sanguínea atrás de princípios de doenças, podendo tratar em tempo suficiente para a cura. Ela inventou o dinheiro digital, que facilita a transação imediata e a segurança do mesmo.

Também devido a tecnologia, descobrimos através de um acelerador de partículas, que há inúmeras outras partículas elementares além dos Bósons, Hádrons e Férmions, como os Mésons, Bárions e Leptons. Ou seja, nós já estamos vivendo no futuro.

Porém, vejo com certa preocupação os movimentos recentes que acontecem nas redes sociais, outro elemento criado pela tecnologia. Se por um lado, essas redes facilitam com que pessoas que sofram certo tipo de preconceito ou que vivam muito isoladas socialmente, encontrem outras pessoas que tenham vivido experiências semelhantes, criando grupos e dando voz aos desejos e sentimentos reprimidos, por outro, também criou inúmeras bolhas sociais.

As bolhas sociais são múltiplas e diversas, não existe uma superior a outra, pois todas negam a realidade à sua volta. Porém, há bolhas mais prejudiciais à sociedade, como por exemplo, quando pessoas extremistas passam a compartilhar suas semelhanças em suas bolhas sociais ao ponto de organizar um grupo terrorista. Ou então, a facilitação das ações de organizações criminosas. Ou outras tantas que passamos a presenciar ultimamente, como grupos revisionistas, anticientíficos e conspiratórios. 

Minha preocupação, é voltada à disseminação de conteúdos que confrontam a realidade e o natural, com o acesso de crianças e jovens, quase que irrestritamente, a essas redes. E não quanto a opinião de cada um. Por exemplo, se tenho um objeto na mão e decido soltar ele, a gravidade irá fazer com que esse objeto caia imediatamente ao chão. Isso é um efeito natural, não há como mudar esse fato. Mesmo que eu queira que o objeto não caia, pare no ar ou que suba, não irá acontecer sem que haja um ambiente gravitacional adequado para isso. Pois eu até posso fazer o exercício de pensar diferente, mas o fato é que mesmo eu pensando de forma oposta, o que existe é a física, o natural e a realidade em volta disso. 

Acredito que o fácil acesso a qualquer tipo de informação gerado pela internet, e consequentemente pelas redes sociais, acarretou em um sério risco à educação, quando a mesma não soube acompanhar os avanços tecnológicos. Prova desse atraso, é que um aluno hoje, quando recebe a informação do professor dentro de sala, tem em seu bolso um objeto de consulta imediata (o smartphone), que esse mesmo professor não teve em seu período educacional. Essa consulta imediata pode acarretar em desinformação, devido a falta de orientação para a consulta de fontes confiáveis. E já não adianta mais o professor ir contra essa tecnologia, inviabilizando o uso ou até mesmo banindo a tecnologia de sala de aula. Ela já está intrínseca ao cotidiano humano, o próprio professor já não sabe viver sem o smartphone dele. O confronto do atual sistema educacional com a tecnologia, só comprava o atraso que a educação tem diante dos avanços tecnológicos.

Reprodução: Internet

O que temos hoje é uma escola do século XIX, com professores do século XX e alunos do século XXI. Hoje, o professor deve estar disposto a também ser um aluno, sabendo que o aluno, por ter maior facilidade com a tecnologia, pode ser também um professor. O professor não é mais o detentor de todo o conhecimento como nos séculos passados, ele é confrontado diariamente com o que é publicado na rede mundial de comunicação. Como um professor pode afirmar algo, sendo que o mesmo assunto hoje é encontrado na internet com diversos pontos de vistas e outros tantos trazendo desinformação? O que isso gera por fim, é o ressurgimento do obscurantismo, revivendo debates nas redes sociais nos quais foram vencidos há décadas, ou até séculos, pelo ambiente acadêmico. 

Portanto, é fundamental o professor reconhecer que hoje, seu papel principal é de tutor e que essas ferramentas tecnológicas não estão para atrapalhar o ensino. Muito pelo contrário, são ótimas ferramentas que podem auxiliar no processo de aprendizagem. A função de professor não será substituída por tecnologia e muito menos por robôs. Pelo contrário, em um país onde a educação é levada a sério, o professor será quem irá dialogar com o aluno sobre cada nova descoberta feita pelo próprio.

Dentro das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), há um universo inimaginável de novas informações e conteúdos. Quando o escritor e poeta argentino, Jorge Luis Borges, escreveu sua obra “O Livro de Areia” em 1975, trouxe a imaginação de um livro, com proposições metafísicas, onde todo o conhecimento estaria reunido nele. Para isso, escreveu 13 contos, mudando de história a cada página virada. Hoje, essa proposição metafísica existe e chama-se internet. Porém, todas essas informações infinitas sozinhas, não irão ajudar em nada no desenvolvimento do aluno. O professor, portanto, deverá ser o contraponto de cada tecnologia de informação e comunicação utilizada pelo aluno, trazendo a ele uma tecnologia de aprendizagem e convivência relacionada a essa informação.

Penso que esse possa ser um processo natural diante de uma nova ferramenta tecnológica. Hoje, graças ao advento do Youtube, podemos ver diversos vídeos demonstrando como eram os tempos quando os primeiros automóveis foram inventados, como eram inexistentes as regras de trânsito e quantos acidentes ocorriam devido a inovação tecnológica. E isso, aparentemente, ocorreu com diversas outras ferramentas, como os trotes pregados através dos equipamentos telefônicos, as fraudes através dos talões de cheques, os erros com as novas ferramentas bancárias, os acidentes provocados pelos primeiros equipamentos elétricos como geladeiras, micro-ondas, secadores de cabelos e máquinas de lavar roupa. O que todas essas ferramentas têm em comum, é o processo de aprendizagem de uso que cada uma delas trouxe à sociedade. Todas elas passaram por várias tentativas e erros, até que a sociedade passou a desenvolver diversas regulamentações e regulações de uso para as mesmas.

O que isso traduz, é que podemos ter a esperança de que os problemas causados pelas bolhas sociais criadas nas redes sociais, serão solucionados através da aprendizagem da sociedade em compreender como essa nova ferramenta será útil ao seu desenvolvimento. Mas para isso, será  fundamental o processo de tentativa e erro, como feito durante todo nosso processo de evolução, para que possamos reconhecer o uso mais adequado dessa ferramenta dentro da educação. 

Para trazer ao debate uma boa reflexão sobre o tema, trago o vídeo do biólogo Atila Iamarino, expondo seu ponto de vista quanto à educação para o futuro. Também trago a palestra de Luís Fernando Guggenberg sobre como as pessoas aprendem, fazendo uma reflexão sobre o futuro da educação.

 

Educação para o Futuro | Atila Iamarino | TEDxUSP

 

O Futuro da Educação: Luís Fernando Guggenberg at TEDxFIAP Tecnologias do Futuro 

 

 

 

 

About author

Gustavo é graduado em Gestão Comercial, com pós-graduação em Habilidades e Competências Socioemocionais na Educação Básica e pós-graduação em Gestão Escolar, todas as graduações pela Universidade Positivo do Paraná. É CEO da Icapiedu. Plataforma gamificada que utiliza de uma metodologia socioemocional para realizar diagnósticos nas escolas e fortalecer o protagonismo dos alunos que sofrem com o bullying no ambiente escolar. Por fim, é um entusiasta por uma educação nacional de qualidade e com a cara do Brasil.
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